Peixes

As pesquisas com a ictiofauna no Sítio RLaC remontam ao início do Projeto PELD, em 1999. Após quase 20 anos de estudos, caracterizados por um aumento no número de ictiólogos e estudantes com subprojetos vinculados ao Sítio, cerca de 100 espécies de peixes são agora registradas no PARNA Restinga de Jurubatiba e na lagoa Imboassica, localizada na área urbana do município de Macaé (Di Dario et al., 2013; Petry et al., 2016).

Os peixes que habitam as lagoas costeiras e as poças associadas no Sítio RLaC provêm, em grande parte, de drenagens continentais associadas à bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e à Lagoa Feia. Embora esses sistemas estejam fora dos limites do PARNA, eles são interligados hidrologicamente às lagoas do PARNA pelo canal Campos-Macaé e por pulsos de inundações seguidas aos períodos de fortes precipitações. Uma parcela interessante da ictiofauna do PARNA também provém do oceano adjacente. Espécies não-nativas, introduzidas diretamente nas lagoas ou que se dispersaram até as lagoas após a introdução em bacias adjacentes ao PARNA, também têm sido registradas na região (Di Dario et al., 2013).

A dinâmica ambiental imposta aos peixes que vivem nos ambientes lênticos do Sítio RLaC resulta de fenômenos que atuam em escalas temporais diferentes (contínuos, anuais e plurianuais). Esta é a base que justifica a temática vigente do projeto nesse sítio. Os três principais fenômenos identificados até o momento associados à dinâmica ambiental no PARNA são:
– a percolação de água marinha pelo cordão arenoso que separa as lagoas do oceano, que torna a água da região das lagoas mais próxima do mar levemente mais salobra se comparada à porção oposta, mais distante do cordão arenoso (evento contínuo);

– intrusões diretas de água marinha por cima do cordão arenoso, um fenômeno que é capaz de aumentar pronunciadamente a salinidade da água em lagoas de área pequena, e que geralmente ocorre entre os meses de maio e setembro (evento anual);

– os anos caracterizados pelos eventos de “La Niña” e “El Niño”, que marcam a recorrência de anos seguidos de queda ou intensificação drástica no regime de chuvas, respectivamente. Na região do PARNA, em anos com menor atuação desses fenômenos climáticos de ampla escala, as chuvas se concentram nos meses mais quentes do ano, entre outubro e março (evento plurianual).

A estiagem prolongada determina o dessecamento de lagoas mais rasas e consequentemente extinções locais de populações de peixes, como vem sendo registrado no momento (2017). Por outro lado, períodos de precipitações elevadas, como aquelas ocorridas entre 2007 e 2009, acarretam o aumento da conexão hidrológica entre o Rio Paraíba do Sul, a Lagoa Feia e as lagoas e poças do PARNA Jurubatiba. Essas vias aquáticas representadas pelos canais são capazes de carrear peixes a partir de grandes reservatórios hídricos perenes regionais, como o Rio Paraíba do Sul, o Rio Macabu, e a Lagoa Feia. As espécies de água doce que colonizam as lagoas do PARNA nesses eventos reestruturam as comunidades das lagoas perenes e fundam novas comunidades nas lagoas temporárias, que passam a ser preenchidas com água da cheia na planície costeira (Felice, 2014).

Cheias e até mesmo precipitações intra-anuais recorrentes acima da média histórica são também desencadeadoras de um fenômeno que altera drasticamente a composição de espécies de algumas lagoas costeiras do Sítio RLaC, que é o rompimento da barra arenoso. Esse evento é causado pelo aumento da pressão da massa de água da lagoa sobre a barra arenosa. Quando a barra arenosa rompe, peixes de água doce são carregados para o oceano, onde morrem, ao passo em que juvenis de diversas espécies marinhas com afinidade por águas salobras, como as tainhas, carapebas e algumas espécies de linguados, entram nas lagoas abertas temporariamente. Aberturas das barras são fenômenos naturais e de natureza esporádica, mas nos últimos anos têm sido desencadeados com relativa frequência por intervenções antrópicas sempre que o transbordamento de lagoas ameaça o patrimônio dos habitantes que vivem em suas áreas marginais, ou quando as condições de uso das lagoas por populações humanas são perdidas pela eutrofização artificial decorrente em grande parte do lançamento de esgoto não tratado. Na região compreendida pelo estudo, a lagoa Imboassica é a que sofre com mais frequência este tipo de impacto.

Entre 2017 e 2020, os estudos com a ictiofauna do Sítio RLaC visam compreender a magnitude na qual eventos extremos, como os déficits na pluviosidade previstos para a região, afetam a composição das comunidades. Pretende-se detectar espécies fenotipicamente plásticas, capazes de suportar variações ambientais em diferentes escalas temporais. Descrever os mecanismos envolvidos e as consequências dessa plasticidade em aspectos comportamentais, reprodutivos e de obtenção e partição de recursos, têm sido objeto de diversos estudos conduzidos no Sítio (e.g., Araújo et al., 2014; Ventura, 2015; Sommer-Trembo et al., 2017; López-Rodríguez, 2015). Também é dado foco às introduções de espécies exóticas, buscando-se avaliar os preditores da invasão e estimar a vulnerabilidade dos ambientes. As informações serão geoespacializadas com a finalidade de compor mapas que auxiliem na gestão e manejo das espécies invasoras no PARNA. Paralelamente, a inclusão inédita da Lagoa Feia na malha amostral permitirá verificar o quanto este corpo hídrico detém da diversidade regional registrada previamente nas lagoas costeiras e poças temporárias, elucidando sua possível relevância na manutenção das comunidades de peixes das lagoas do Norte Fluminense como um todo. Todas essas ações fornecerão subsídios para a conservação e gestão das lagoas e ecossistemas do PARNA Jurubatiba, um importante patrimônio ambiental da região Norte Fluminense.

Grupo Zoologia de Vertebrados Aquáticos​

Ana Cristina Petry
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Erica Pellegrine Caramaschi
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Fábio Di Dario
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Luciano Gomes Fischer
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Michael Maia Mincarone
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Pedro Hollanda Carvalho
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